sexta-feira, 30 de março de 2012

A chamada "nova classe média": cultura material, inclusão e distinção social

Para quem quiser, artigo completo publicado no scielo.

http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-71832011000200009&script=sci_arttext

Acessem e baixem o arquivo.

Matéria no O Globo

FILMES, MÚSICAS E LIVROS LIDERAM PROCURA ON-LINE
26/02/2012

E-commerce ainda enfrenta resistência por causa da segurança

Filmes, livros e músicas são os produtos mais procurados nas

compras on-line, de acordo com o sócio da KMPG Manuel Fernandes,

responsável pela área de tecnologia, mídia e telecomunicações da

empresa.

- Ainda há resistência com as compras on-line por preocupações com

segurança, mas isso está caindo. Os custos de acesso também são um

gargalo, que pode ser resolvido com o plano nacional de banda larga.

Sem estes obstáculos, o consumo tende a aumentar - avalia.

Consultor de aplicações de tecnologia para empresas, Fabiano Caruso

se classifica como early adopter - consumidor que adere a tecnologias

ainda embrionárias. Como prioridades, ele coloca a banda larga e o

pacote de dados pelo celular:

- Com dois mega, qualquer pessoa já pode fazer a festa, mas por

causa do trabalho, tenho uma conexão mais potente, de 15 mega.

Tenho iPhone, mas uso pouco para fazer chamadas pela rede

convencional. Normalmente, uso serviços como o Skype. Só tenho

telefone fixo porque alguns serviços de entregas não aceitam

cadastro com celular.

O smartphone também é indispensável para a enfermeira Juliana

Gonçalves. Para contornar os gastos com chamadas, Juliana aposta

em aplicativos de mensagens instantâneas gratuitas.

Para fazer frente às conexões velozes e ao "cinema em casa",

cresceram os gastos com computadores, celulares e TVs. Caruso tem

duas de LCD: uma de 40 polegadas e outra de 32. Já Tavares optou

por uma de 50.

A corrida por produtos cada vez mais avançados é compreensível, diz

a antropóloga e consultora Hilaine Yaccoub, professora de Métodos

Qualitativos de Pesquisa da ESPM-RJ. Ela afirma que as pessoas

tentam se distinguir dos vizinhos pelo consumo.

Como os avanços tecnológicos continuarão, as próximas POFs devem

mostrar novas mudanças, afirma o decano do Instituto de Economia

da UFRJ Luiz Roberto Cunha. Mas isso não significará,

necessariamente, gastos maiores das famílias devido ao efeito de

escala. (Márcio Beck)

Jornal: O GLOBO

quinta-feira, 22 de março de 2012

Cresce número de jovens brasileiros que fazem financiamento em bancos

 Os bancos se animam com jovens buscando créditos, mas especialista alerta que não se deve comprometer mais que 30% do salário com parcelas.

A expansão do crédito no Brasil chegou a um grupo ao mesmo tempo vulnerável e sedento por financiamento: os jovens. Eles são o novo alvo de quem oferece crédito no Brasil. Depois de formados, a maioria fica pelo menos dez anos com a conta no banco.

Vinte três anos, emprego com carteira assinada e promoção à vista. O vendedor Winner Delazari vai voando baixo ainda mais agora, de moto nova. “É a liberdade, em primeiro lugar, a liberdade e depois a economia que a moto traz”.

Mas para realizar esse "sonho de liberdade", o jovem vendedor se amarrou no financiamento. “Hoje em dia se a juventude não tiver alguma coisa para pagar, se comprometendo no mês, não consegue juntar o dinheiro, essas opções de crédito facilita bastante na hora da compra”.

Moto, carro, celular e todo tipo de tecnologia é o que eles mais querem comprar. Os jovens com idade entre 18 e 25 anos descobriram que podem pegar dinheiro no banco para começar a vida com mais conforto. Uma estudo da Serasa Experian indica que quase 20% dos empréstimos vão para um grupo de consumidores. Grande parte desse grupo é formada por universitários que trabalham para pagar a faculdade.

Em relação à juventude da Europa, vivemos o outro lado da moeda. Enquanto lá, a crise assusta os mais jovens, que não conseguem arrumar emprego. No Brasil, a carteira assinada e o otimismo com o futuro da economia encorajam.

“Nós estamos falando de pessoas que têm empregos formais, capazes de mostrar prova de residência, isso facilita o acesso ao crédito, a formalização ao crédito”, conta o presidente da Serasa Experian, Ricardo Loureiro.

As instituições financeiras se animam com os jovens buscando crédito. As pesquisas mostram que 70% continuam clientes depois do diploma, por pelo menos mais uma década.

“O jovem está, de fato, indo cada vez mais para universidade e está consumindo cada vez mais na medida em que a renda tem melhorado bastante", diz o diretor do Santander Universidades, Jamil Hannouche.

Mas para começar a vida endividado, tem um limite: 30% do salário é o máximo indicado para comprometer com parcelas. Mas para Loureiro o cenário ainda não é preocupante.

“Isso esta totalmente compatível com o nível de endividamento que estamos observando. Evidentemente que isso tem que ter acompanhamento contínuo, mas não vejo nenhuma preocupação nesse momento em relação a esse assunto”.

Fonte: http://g1.globo.com/jornal-da-globo/noticia/2012/03/cresce-numero-de-jovens-brasileiros-que-fazem-financiamento-em-bancos.html

quarta-feira, 21 de março de 2012

Palestra Práticas de consumo na “Nova Classe Média” no CPDA




O Laboratório de Sociologia do Consumo,

o CPDA/UFRRJ e o

o Grupo de Estudos do Consumo

convidam para a palestra

Práticas de consumo na “Nova Classe Média”

Profa. Dra. Letícia Veloso


Programa de Pós Graduação de Sociologia da UFF

Programa de Pós Graduação de Sociologia e Direito da UFF


Dia:        28/03/2012

Hora:    14 às 17h

Local:    CPDA/UFRRJ

Av. Av. Presidente Vargas, 417 | 6º andar | Centro | Rio de Janeiro | RJ

Mundo do Marketing estreia blog sobre consumo das classes C, D e E

Canal será comandado por Hilaine Yaccoub, antropóloga e doutoranda em antropologia do consumo pela UFF, além de gerente do núcleo de pesquisa qualitativa da M.Sense Inteligência de Mercado

Por Sylvia de Sá, do Mundo do Marketing | 20/03/2012

sylvia@mundodomarketing.com.br

O Mundo do Marketing ganha mais um colaborador. A partir de hoje, dia 20, Hilaine Yaccoub comanda o blog Diário das classes C, D e E, que traz uma reflexão a respeito do comportamento de consumo das camadas populares a partir do olhar da antropologia. No primeiro post, Hilaine fala sobre sua relação com a ciência social e a importância da antropologia do consumo, que parece ter chegado de vez às empresas.

“Chegados os anos 70, (...) a chamada Antropologia do Consumo nasce como uma linha de pesquisa atenta a desenvolver aportes teóricos para o entendimento do indivíduo quando consumidor”, escreve a especialista em seu texto de estreia.

Antropóloga e doutoranda em antropologia do consumo pela UFF, Hilaine Yaccoub desenvolve pesquisas de mercado e ministra palestras sobre comportamento e antropologia do consumo, além de lecionar em instituições como ESPM RJ, Puc, Senai Cetiqt e Unilasalle. A profissional também gerencia o núcleo de pesquisa qualitativa da M.Sense Inteligência de Mercado, empresa de pesquisa e gestão do conhecimento do cliente.

terça-feira, 20 de março de 2012

Novo blog semanal no Mundo do Marketing


E a antropologia chegou às empresas...

Postado por Hilaine Yaccoub - 20/03/2012"Quando descobri a Antropologia, não fazia ideia do que este campo de conhecimento me possibilitaria e sequer imaginava que existia uma profissão cujo objetivo é entender os outros
Caros leitores do Mundo do Marketing,

Saudações!

Quando descobri a Antropologia, não fazia ideia do que este campo de conhecimento me possibilitaria. Eu, uma estudante secundarista, sequer imaginava que existia uma profissão cujo objetivo é entender os outros. A antropologia faz parte de uma área das ciências sociais (as outras são ciência política e sociologia), que se propõe a analisar, entender e interpretar as diversidades e a diferença. O choque cultural é a mola propulsora dos pesquisadores, nos impulsionando sempre a querer entender outros universos, outros valores, práticas, crenças etc.

Para que esse entendimento se dê, é necessário que pré-noções sedimentadas e absorvidas ao longo da nossa existência sejam descontruídas, ou sublimadas no instante da nossa pesquisa. Se estes valores se fizerem presentes, serão condicionantes para que haja vieses na pesquisa, e esta estará comprometida.

É uma eterna luta contra nós mesmos, nossos gostos, nossas vontades para que se entenda o outro, o gosto dele, seus valores, suas aspirações, seus padrões estéticos. Mas ao longo do tempo, desde o começo do século XX, têm sido realizadas pesquisas, análises, aprofundamentos teóricos e metodológicos que pretendem consolidar a Antropologia como campo do conhecimento e sua eficácia para tal.

blog,diário,c,d,e,antropologiaA Antropologia do Consumo
Chegados os anos 70, toda essa expertise se volta para as empresas, e a chamada Antropologia do Consumo nasce como uma linha de pesquisa atenta a desenvolver aportes teóricos para o entendimento do indivíduo quando consumidor. A antropóloga Mary Douglas e o economista Baron Isherwood lançam o livro “Mundo dos Bens”, em 1976, com a lógica de que o consumo de bens vai além do consumo material. Para os autores estão inseridos neste processo o campo simbólico que servirá para que os sujeitos se comuniquem. Possuir determinadas coisas traduzem mensagens sobre nossas escolhas, baseadas em gostos, preferências e questões aspiracionais.

Desde sua fundação, a Antropologia utiliza alguns instrumentos de pesquisas. Um deles é o chamado DIÁRIO DE CAMPO. Nele, o antropólogo escreve tudo que vê, sente, enxerga durante a observação participante e isto só é possível quando ele está lá, no momento e no lugar onde as situações ocorrem, fazendo parte daquele contexto, para depois conseguir traduzir tudo que viu. A partir deste caderno, ele escreverá a sua etnografia, uma análise aprofundada, descritiva, que será analisada posteriormente à luz da teoria social.

Esse rico material servirá como fonte de conhecimento para profissionais das mais variadas áreas, em especial o Marketing, que desenvolverá estratégias de negócios, serviços, comunicação para os mais variados públicos. E é aí que entra minha contribuição.

Nos vemos em breve!"

Fonte: http://mundodomarketing.com.br/blogs/diario-das-classes-c-d-e-e

sexta-feira, 16 de março de 2012

Usos e contra-usos da tecnologia

Pra quem já leu meus artigos ou assistiu minhas palestras sabe que partilho com Bruno Latour que determinados bens são produtos sociotécnicos, ou seja, estão em constante contato e sintonia, o aparelho (bem) e a sociedade (o usuário). Partilhando também da ideia de que o consumidor não é um ser passivo, aquele que apenas usa o bem, mas sim é ativo, ele experimenta, manipula, customiza, recria, interage com esse bem, De Certeau prefere chamar esse consumidor de usuário por acreditar que o termo consumidor denote uma posição passiva.

Assim como o furto e fraude de energia elétrica é uma manipulação de um bem ou serviço, ou a caneta bic criada para escrever, pode usada com outros fins, desde prendedor de cabelo a uma arma dentro de um presídio (entre outras tantas). Uma notícia essa semana me chamou atenção.

Um aparelho denominado "capetinha" bloqueia o rastreamento de caminhões de carga facilitando o roubo e estravio de mercadorias por ladrões nas estradas brasileiras. Mais uma vez, diante de uma tecnologia desenvolvida para segurança, uma estratégia empresarial de segurança é quebrada por outra tecnologia produzida na surdina, uma tática para contrapor a ordem, o uso, ou seja, o contra-uso, neste caso, o roubo.

Veja a matéria logo abaixo:



Ladrões usavam bloqueador de rastreador para roubar caminhões

Aparelho usado pelo grupo bloqueava sinais de rastreadores e celulares, num raio de até um quilômetro. Nove homens foram presos.

A Polícia Federal prendeu nove homens que usavam um bloqueador de rastreador por satélite para roubar caminhões, em São Paulo.
O aparelho, cheio de antenas, apelidado no Brasil de "capeta" ou "capetinha" é pequeno, mas causa estragos no transporte de cargas pelo país.
Durante a ação, os ladrões pegam a estrada e ligam o equipamento, que cria um campo de isolamento e bloqueia os sinais de rastreadores e celulares, num raio de até um quilômetro. Um caminho aberto para roubo de caminhões.
Primeiro, de outro veículo, um dos criminosos avisa o caminhoneiro sobre um falso defeito, como pneu furado ou vazamento de óleo. O motorista, ao parar no acostamento, é dominado.
No último roubo o caminhão não saiu da estrada. Foi levado de Guarulhos para Caçapava. O motorista ficou em cativeiro por duas horas até o momento da prisão da quadrilha.
O caminhão que tinha partido do Espírito Santo faria entregas na Grande São Paulo. Depois do roubo, para não correr risco, os ladrões ligaram o 'capeta' a uma bateria no banco do passageiro e destruíram o painel a procura do rastreador. Quando chegaram num posto de combustível, em Caçapava, a polícia, que já acompanhava os passos da quadrilha, estava lá.
“Nesse local houve um encontro entre o grupo criminoso que efetivamente roubou o veículo e a célula formada pelos receptadores que iriam recebê-lo, foi então o momento que foi possível realizar a abordagem e prender os dois grupos ao mesmo tempo”, diz o delegado da Polícia Federal, Guilherme de Castro Almeida.
A quadrilha atuava na via Dutra e na Fernão Dias que fazem a ligação entre São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Segundo a Polícia Federal, roubou um caminhão por dia, nos últimos três meses.

Fonte: http://g1.globo.com/jornal-da-globo/noticia/2012/03/ladroes-usavam-bloqueador-de-rastreador-para-roubar-caminhoes.html


Até quando executivos das mais variadas áreas verão que não adianta contrapor a ordem ou desordem através da tecnologia? O usuário manipula o sistema e cria pra si uma outra ordem, uma outra tecnologia para combater a estratégia e chegar ao seu objetivo. A questão é estrutural e não tecnológica.

Divulgando evento sobre Consumo Politizado

Juventude e comportamento

Juventudes e Gerações no Brasil ContemporâneoLívia Barbosa
Juventudes e Gerações no Brasil Contemporâneo oferece um panorama interessante e diverso das juventudes brasileiras em três diferentes áreas: mundo digital, estilo de vida e mercado de trabalho e carreiras. Na primeira parte, encontramos temas que vão da relação da juventude com a música digital até a discussão sobre a maior facilidade do jovem em lidar com os aspectos tecnológicos da vida cotidiana, passando pela ênfase no aspecto físico dos avatares no mundo da Second Life. O processo de escolha do veganismo como opção alimentar e suas múltiplas relações com a sociabilidade, o consumo de roupas no universo funk e os seus significados são alguns dos temas que compõem a segunda parte. A relação entre educação e mercado de trabalho, o significado da carreira e a mobilidade dos jovens na sociedade contemporânea, quando estudar no exterior hoje se torna parte da sua qualificação, são as temáticas que constituem a terceira e última parte do livro.
Organizado por Lívia Barbosa, Juventudes e Gerações no Brasil Contemporâneo conta com a colaboração de pesquisadores das áreas de Comunicação, Ciências Sociais, Economia, Administração e Marketing. Os diferentes temas possuem em comum a ideia de que não podemos falar de juventude brasileira no singular mas sim de juventudes brasileiras no plural, como forma de enfatizar as múltiplas e diversas formas de ser jovem no mundo atual. O livro é fruto de uma parceria do Globo Universidade com a Escola

segunda-feira, 5 de março de 2012

Cenas Chocantes no Fashion Mall

Conversava com o roteirista e diretor
Rafael Dragaud, de “Conexões urbanas”,
sobre sua mudança de residência,
de um pequeno apartamento no
Leblon, entre a Cruzada São Sebastião e o Jardim
de Alah, para uma casa em São Conrado,
nos altos das Canoas, na fronteira também
com uma pequena comunidade. Rafael me
contava, horrorizado, as cenas que tem presenciado
no Fashion Mall — shopping que
passou a frequentar mais desde que se mudou
— e que o fazem refletir sobre o quanto
somos, ainda, escravocratas.
A primeira cena foi de uma moça com biótipo
nordestino que passeava com três crianças
de pele bem clara, como seus cabelos e
seus olhos. Um segurança negro e alto a abordou,
com educação. Numa localização estratégica,
Rafael, que tem o hábito de observar,
na moita, esses enclaves comportamentais,
viu tudo, como um antropólogo.
Percebeu, inclusive, o constrangimento do
segurança, de origem humilde, e seu esforço
para encontrar um modo de falar que não ofendesse
a moça, ao lhe perguntar qual o grau de
relação que tinha com aquelas crianças.
Ao confirmar suas suspeitas – a mulher era
babá da prole de algum casal que, naquele
momento, fazia compras ou trabalhava – o segurança
pediu que se encaminhasse para algum
misterioso destino, esperou que ela desaparecesse
e passou um rádio para assegurar
o procedimento. O fato: ela não podia ficar
ali sem o uniforme de serviçal.
O Fashion Mall, não é novidade, tornou-se,
em certos dias e horários, o shopping das babás
uniformizadas conduzindo crianças de
classe AAA, acompanhadas ou não dos pais, e
carregando também as compras. Há momentos
em que poderíamos jurar que estamos no
set de “Histórias cruzadas”, o filme da Disney
que mostra como eram tratadas as domésticas
e babás (normalmente, elas faziam todas
as funções) no Sul racista, na transição para a
conquista dos direitos civis dos negros.
A diferença é que aqui, como nos ensinara
Caetano em “Haiti”, o preto é sinônimo de pobre:
pode ser branco, nordestino, caboclo, índio,
é tudo preto, tudo preso, e o nosso apartheid
hoje é mais social do que racial, embora
sua herança seja escravocrata. O Rio de Janeiro,
que na Abolição votou 100% contra, é até hoje
craque em preconceito social e segregação,
como se pode exemplificar na outra cena que
Rafael presenciou, ao entrar, com sua mulher,
numa sessão de “O espião que sabia demais”.
Numa das fileiras de trás, estava um desses
yuppies de cabelinho penteado pro lado, que Rafael
reconhecera, na entrada, de uma outra ocasião,
quando o mesmo mandara demitir alguém
pelo celular, aos gritos, enquanto comprava vinhos
numa dessas adegas, e depois pegara a
chave com o guardador sem olhá-lo na face.
Pois, o yuppie, com sua turma, tacava a maior
zona, falando alto, consultando celular, aquela
falta de educação característica de quem tem
berço mas não tem caráter. Uma mulher, próxima
a eles, em companhia do marido, reclamou.
— Por favor, silêncio! A gente pagou pra assistir
ao filme!
O Sr. Riquinho soltou um ganido de gazela:
— Ihhhhh... olha só.... olha a audácia... Pelo
jeito, não tem dinheiro pra vir ao cinema, não
vem nunca, daí dar tanta importância pra essa
merda.
— Que absurdo! Eu ralo o mês inteiro pra
ganhar meu dinheiro honesto e ainda tenho
que ouvir isso!
O yuppie se dirigiu à mulher como a um
cão.
— Psssssst.... ca-la-da! Ca-la-da!
Foi quando o marido da cidadã resolveu se
pronunciar. Levantou-se e se posicionou na
direção do ofensor.
— Escuta, você está mesmo mandando a
minha mulher calar a boca? Você está mesmo
com disposição de resolver isso comigo fora
da sala?
Como qualquer covarde pusilânime, o rico
mimado sem classe pôs o rabo entre as pernas
e desistiu de confrontar o casal trabalhador
(o clichê é consciente e proposital).
O que está por trás da orientação, decerto
ilegal, que proíbe babás não uniformizadas de
caminhar por um shopping com os filhos de
seus patrões?
O que está na cabeça de quem administra o
Fashion Mall, que andou perseguindo o filho de
criação de Caetano, expulso do local por seguranças,
acusado de “atitude suspeita”, talvez
pela cor da pele e o trato rasta do cabelo?
Não estaria na hora de se cobrar, na Justiça,
de acordo com o código penal, a impropriedade
desses procedimentos? Ou seriam apenas
“atitudes isoladas”?
Os shoppings, para muitos, se tornaram
bairros, cidadelas, “comunidades”, e já há
grandes estabelecimentos do gênero em todas
as regiões da cidade e do estado.
Há, inclusive, shoppings na Zona Sul onde se
nota que a pluralidade é não apenas tolerada,
mas desejada, como o Shopping Leblon, que,
mesmo tirando onda de chique, tem suas galerias
e lojas percorridas por madames e moradores
da Cruzada, babás de jeans e empresários,
Hells Angels e motoboys, sem que pareçam,
uns, se incomodarem com os outros.
Ao contrário, a impressão que se tem é de se
estar, do ponto de vista do cosmopolitismo, numa
Avenida Copacabana, com todo o respeito e
no melhor sentido do endereço. No Rio Sul e no
Botafogo Praia Shopping também se respiram
esses ares de boa mistura igualitária, mesmo
que as carteiras, as contas bancárias e o poder
de compra tenham diferenças consideráveis.
Vitrines são para todos e, para os menos abastados,
sempre sobra algum fruto do suor para
se fazer um agrado, a si ou ao próximo.
O que há com o Fashion Mall para investir nessa
abominável vertente de clube segregacionista?
Um bom tema para reflexão (e para providências)
na semana em que a cidade faz aniversário